2022 pode ser outro ano perdido para a economia brasileira, alerta FGV

O pesquisador associado da fundação e responsável pelo indicador, fora a economia de serviços, que agora mostra indícios de reação, não há muitos setores na economia sinalizando retomada robusta

Publicado por Comunicação em 20 de dezembro de 2021

A atividade fraca da indústria derrubou o Produto Interno Bruto (PIB) em outubro ante setembro, na leitura do Monitor do PIB, anunciado há pouco pela Fundação Getulio Vargas (FGV). No Monitor, o PIB de outubro caiu 0,7% ante setembro, com estagnação ante outubro de 2020; e crescimento de apenas 1% no trimestre móvel, encerrado em outubro ante o finalizado em julho.

Para Claudio Considera, pesquisador associado da fundação e responsável pelo indicador, os sinais da economia até outubro não são bons. Ele comentou que, fora a economia de serviços, que agora mostra indícios de reação devido à flexibilização de circulação social, ocasionada por melhora de indicadores da pandemia, não há muitos setores na economia sinalizando retomada robusta. Isso, na prática, seria má notícia para a atividade econômica no próximo ano, admitiu. “Estamos correndo risco de 2022 ser outro ano perdido [para a economia]”, alertou o economista.

Ao falar sobre a evolução da economia mensurada pelo Monitor, de setembro para outubro, Considera notou que houve aprofundamento de queda na indústria, no período. No indicador, a atividade industrial saiu de queda de -0,6% para recuo de -2,1%, no período.

“A indústria teve uma melhora muito grande há alguns meses”, lembrou. No entanto, essa melhora não se sustentou porque houve arrefecimento de demanda por bens duráveis, a partir de meados de 2021, um reflexo do cenário de menor renda, originada do trabalho; e inflação e juros mais elevados ante meses imediatamente anteriores.

O impacto da indústria foi tão forte que acabou por inibir, em parte, influência da recuperação do segmento “outros serviços” dentro do Monitor do PIB de outubro.

No indicador da FGV, a atividade nesse campo subiu 10,2% em outubro ante setembro – sendo que já tinha aumentado 11% em setembro ante agosto. Essa área contempla serviços de bares, restaurantes, turismo. Considera lembra que esses segmentos que foram fortemente prejudicados pelo advento da pandemia a partir de março de 2020.

Mas, na metade desse ano, começaram a se recuperar de forma mais forte, graças ao ritmo mais ágil de vacinação contra covid-19 e, por consequência, melhora de indicadores da pandemia, com menor ritmo de restrições sociais, recordou ele.

Ao ser questionado sobre perspectivas para os próximos meses, bem como começo de 2022, a partir das sinalizações na atividade delineadas no Monitor do PIB de outubro, Considera foi cauteloso. Ele comentou que as projeções do Instituto Brasileiro de Economia da FGV (FGV/Ibre) são de alta em torno de 4,5% em 2021 ante 2020, o que mal recupera queda de 4,1% na economia do ano passado, ante 2019, ocasionada pela crise na atividade econômica causada pela pandemia.

Na prática, admitiu Considera, não há sinais de boas notícias para a economia, para 2022, tendo em vista o atual contexto macroeconômico. “Temos problema de desemprego, na casa de dois dígitos”, lembrou ele, considerando que isso afeta renda originada do trabalho, e diminui o consumo das famílias, de maneira geral. E, no momento, o orçamento das famílias segue pressionado por cenário de preços e juros altos. No Monitor do PIB, o consumo das famílias caiu 0,2% em outubro ante setembro, após sair de alta de 1,5% em setembro ante outubro.

No entendimento do técnico, se o poder de compra das famílias não reagir, isso não levaria a uma impulsão maior na economia de serviços, que representa mais de 70% do PIB; nem a uma recuperação na indústria, visto que o setor industrial é muito influenciado por demanda de bens duráveis.

Ele informou ainda que, também segundo as projeções do FGV/Ibre, 2022 estaria sinalizando crescimento de apenas 0,7% no PIB. “Seria um crescimento medíocre [caso confirmado]”, finalizou ele.

Este conteúdo foi publicado originalmente no Valor PRO.

Fonte: Valor Investe

Foto: Agência Brasil/Reprodução