O complexo impacto do aumento do combustível na economia interpessoal

O valor dos combustíveis foram reajustados cinco vezes em dois meses

Publicado por Comunicação em 08 de março de 2021

Como um dos principais pontos de aumento exponencial sentido dentro dos orçamentos dos brasileiros em 2021, o preço dos combustíveis foi reajustado por cinco vezes consecutivas, causando aumento de 41,3% no preço da gasolina e 34,1% sobre o diesel. No entanto, não somente motoristas de carros particulares ou de aplicativos de transporte sentem o peso da elevação do valor.

A forma de transportar e despachar mercadorias é feita normalmente pela malha rodoviária. Com incremento nos custos de produção, afetados pelos valores voláteis dos combustíveis, houve redução do lucro de quem trafega pelo País. Os caminhoneiros, por exemplo, reclamam de perda de lucro e crescimento de gastos para rodarem, diminuindo rotas de distribuição e encarecendo custos de tráfegos de distribuição de encomendas. 

Por conseguinte, a elevação dos custos praticados pela Petrobras e repassados ao consumidor final impacta diretamente no preço de outros produtos. Na última segunda-feira (01/03) o presidente da república, Jair Bolsonaro, anunciou que enviará ao Congresso um projeto de lei que modifica o Imposto sobre a Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS), alterando o sistema de cobrança para um preço fixo por litro.

Na manhã da última sexta-feira (05/03), 200 motoristas de aplicativos se reuniram na porta da base da Petrobras, em Senador Canedo para reivindicar a redução do ICMS, o imposto estadual sobre a venda e o transporte de produtos. 

Segundo a Associação de Motorista de Aplicativos do Estado de Goiás (Amago), em torno de 250 veículos alugados pelos trabalhadores foram devolvidos nas últimas semanas, devido ao aumento de custo para os motoristas. 

Comércio

Um dos segmentos que sentem diretamente a subida dos preços dos combustíveis é o setor de serviços que presta atendimento diretamente ao público. Como exemplificado pelo microempreendedor Mateus Suassuna, o setor sofre de forma direta e sente o efeito do lockdown, em vigor desde a última segunda-feira (01/03) na capital goiana.

O microempreendedor é proprietário do restaurante República da Saúde, que trabalha com o conceito de oferecer um cardápio focado na alimentação saudável e de valor acessível. Mateus explica que com a pandemia da covid-19, o setor passou por mudança em seu processo de logística. 

“Passamos a trabalhar com o serviço de delivery, em que a entrega dos alimentos passaram a ser feitas por serviços terceirizados. Quando há um aumento, o custo da viagem de entrega encarece, consequentemente, um potencial cliente passa a ter dois custos maiores”, pondera. 

Por consequência, o aumento dos custos de transporte afeta o custo final de um produto, o encarecendo. “O que era acessível para um cliente em janeiro deste ano, agora pode não ser mais, com isso o mercado perde um cliente, que vê o seu poder de compra diminuir diante do aumento do custo de vida”, destaca Mateus.  

Há outro fator que contribuiu para que o mercado desacelerasse diante da alta dos combustíveis. Com adoção de lockdown e novas restrições, Mateus afirma que mesmo com adaptações de infraestrutura feitas em seu estabelecimento para atender melhor entregadores de aplicativos, o seu lucro é 60% menor ao que ele obtinha, antes da pandemia. Este se torna outro fator que ele acredita dificultar para manter o seu negócio. 

Suassuna exemplifica que inúmeros negócios fecharam ao longo de 2020 e passaram por um processo de repensar como abrir um empreendimento em tempos pandêmicos. Ele continua falando que quem trabalha no setor de eventos, como ele, passou a ter queda de 100% de procura devido às limitações impostas pela covid-19.

Sistema por trás da cobrança

Para entender como funciona o sistema de tabulação de preços para venda de combustíveis ao consumidor final, entrevistamos o economista e mestre, Renato Ribeiro, que é professor do Instituto de Pós-Graduação e Graduação (IPOG). De início, Renato explica que o barril de petróleo é uma commodity e que sua venda baseia-se no sistema internacional de venda. Desta forma, as vendas são feitas com base na moeda norte-americana: o dólar. 

Com queda de arrecadação de impostos e uma inflação que começa a subir e a impactar o mercado, os índices de inflação sobem, como exemplifica Ribeiro. Assim, a moeda local (o real) se desvaloriza e causa uma fragilização e aumento dos custos de operação de petroleiras. 

Como consequência da crise gerada pela pandemia prolongada da covid-19, o País enfrenta a pior recessão em mais de 30 anos, de acordo com o atual relatório divulgado pela Faculdade de Economia da Fundação Getulio Vargas (FGV). Essa resposta econômica, não tão clara, causa desconfiança no mercado, e impostos, como IPCA, sobem e o vendedor final tem que ajustar de acordo com a margem de custo do produto.  

Todavia, a complexidade do problema reside em mais um entrave, que o faz custar mais caro e explica seu reajuste por cinco vezes ao longo dos dois primeiros meses deste ano. Com uma tributação em escala federativa e estaduais, como ICMS, PIS, COFINS e CIDE o processo de cobrança sobre os combustíveis passa a ser taxado de acordo com a necessidade tributária do seu respectivo estado.  

Por conseguinte, o economista Renato Ribeiro detalha a necessidade de uma reforma tributária que simplifique e unifique o processo. Não somente para uma diminuição de carga de cobrança sobre o produto, mas para melhorar o sistema de acordo com atual cenário mercadológico.

No entanto, há outro elemento que ele aponta além das reformas estruturais. Ribeiro enxerga como necessário um plano de enfrentamento e medidas econômicas que deem resposta em nível local para controlar a epidemia da covid-19.  Ele cita a criação de planos de vacinação e controle sanitário, para após criar um plano de longo prazo para recuperação econômica e de reajustes para fortalecer o País.      

Custo aumentou

Para a estudante de odontologia Sophia Fernandes (22), o aumento dos preços da gasolina também tem sido um fator preocupante. Ela frequenta as aulas num modelo misto de EAD, com matérias práticas feitas em laboratório na Faculdade de Odontologia, da Universidade Federal de Goiás (FO-UFG). 

Sophia percorre um percurso de 15,9 km entre sua residência, no bairro Cândido de Queiroz em Aparecida de Goiânia, até o Setor Universitário em Goiânia. A jovem diz que quando não tem a possibilidade de pegar carona com seu pai, Cláudio Pereira dos Santos (49), ela precisa enfrentar o transporte público, em que chega a pegar até três ônibus para ir às aulas. 

O supervisor de vendas e programador, da empresa Copag, Cláudio Pereira dos Santos (49), considera que o impacto do aumento afetou suas finanças.

“Passamos a precisar de ter um controle rigoroso, mesmo que haja uma logística em que deixo minha esposa no trabalho e minha filha Sophia na faculdade. Os custos aumentaram, dessa maneira gastos que consideramos menos importantes foram cortados”, pondera o supervisor. 

Quando questionada sobre alternativas de transporte, Sophia comenta que no último mês seus gastos com transporte com aplicativos aumentaram pelo menos R$ 135,00. “O transporte em Goiânia, de forma geral, oferece poucas alternativas, e no caso de utilizar app de viagem tem se tornado caro também”, pontua.